O Núcleo da Baixada Fluminense, “Organização e Luta”, debateu na manhã do dia 23/10, as “Condições de trabalho e impactos no exercício profissional de assistentes sociais na Baixada Fluminense”. A precarização das relações de trabalho e a saúde do trabalhador apareceram como os dois principais polos da discussão. A organização de assistentes sociais foi apontada como o possível caminho para mudança do cenário atual no qual as profissionais estão submetidas.
Conduziram o debate Yolanda Guerra, assistente social e professora da Escola de Serviço Social da UFRJ; Martha Fortuna, assistente social do DESSAUDE/UERJ e professora do curso de Serviço Social da UNIABEU; e a coordenadora da COFI (Comissão de Orientação e Fiscalização) do CRESS-RJ e assistente social, Márcia Canena.
Yolanda Guerra alertou a categoria para o momento atual do capitalismo, onde as formas de individualização estão mais acirradas e o papel do Estado na precarização do trabalho. Ela ainda destacou que essas formas de dominação, que são premissas do modo de produção, colocam assistentes sociais diante do fatalismo, num verdadeiro “salve-se quem puder”. E, ainda, diante do messianismo profissional: no qual acredita-se, individualmente, poder resolver tudo o que é posto diante dele.
“Que tempos são esses que nos leva a não nos comprometer com nada? É uma eterna sensação de ressaca, porque estamos cansados de vivenciar todos esses processos de dominação. É um sentimento de impotência. A discussão do desemprego, as alterações as quais estamos vivenciando no dia a dia, que estão mudando o mercado de trabalho, significativamente, não são novas. Mas vêm num processo mais nefasto, perverso. A desregulamentação sistemática, com a contratação de profissionais sob outras denominações, com cargos genéricos, não é só uma maneira de desregulamentar. Mas também é uma forma de retirar a especialização que nos é muito cara, porque é onde está nossa formação profissional. Outras profissões estão passando pelo mesmo processo. Ou seja, retiram todos os conteúdos profissionais e tornam nossas atividades cada vez mais genéricas.  No sentido, de que todo mundo pode passar de uma atividade a outra rapidamente, todo mundo pode fazer de tudo. É o discurso da transdisciplinalidade. O desemprego é a possibilidade de dominação do trabalhador. Hoje os trabalhadores não são mais companheiros, são competidores”, refletiu Yolanda Guerra.
Esses processos de dominação e precarização do trabalho ocasionam outra consequência prejudicial à classe trabalhadora: problemas de saúde. Essa foi a linha de condução da fala de Martha Fortuna. A pressão para que atinjam metas, acúmulos de funções e empregos, foram questões abordadas por Martha. Ansiedade e depressão são os sintomas mais comuns encontrados na classe trabalhadora, oriundos da submissão à exploração.
“A sobrecarga de trabalho quotidiano produz desgaste sistemático. Uma vez que convivem diariamente com limitações ou mesmo impossibilidades para desenvolverem suas atividades laborativas. Além de muitas vezes estarem submetidos à situação de tensão prolongada, face ao reconhecimento da ausência de condição para viabilizar os serviços, como, por exemplo, a autonomia técnica. A insatisfação e desmotivação dos profissionais revelam seu desgaste físico e mental. Em muitas situações, isso cria obstáculos para a operacionalização dos princípios ético-político, agravado pela necessidade de cumprimento de metas de produtividade e acumulo de várias funções e tarefas”, explicou.
Ao final, a debatedora da mesa, Márcia Canena, abordou a necessidade da luta organizada. Ela também falou do papel da COFI na luta contra a precarização das relações do trabalho, com as denúncias de problemas no exercício profissional, que chegam até a comissão. “Resgatar essa questão da militância é fundamental para a identidade de classe. Pois, classe trabalhadora é quem vive de seu trabalho. É aí que reside a necessidade da luta coletiva. Quanto mais sairmos desse lugar de desanimo, mais fortes vamos ficar”, acredita.