Unesp recebe referência mundial em estudos de gênero

Docente da Universidade da Califórnia, Berkeley, Judith Butler participa de evento
O Campus da Unesp em São José do Rio Preto recebe, dias 8, 9 e 10 de setembro a filósofa Judith Butler, docente do Departamento de Literatura Comparada da Universidade da Califórnia, Berkeley, e uma das mais importantes teóricas dos estudosqueer. A teoria queer, sobre gênero, afirma que a orientação sexual e a identidade sexual ou de gênero dos indivíduos são o resultado de um construto social e que, portanto, não existem papéis sexuais essencial ou biologicamente inscritos na natureza humana, antes formas socialmente variáveis de desempenhar um ou vários papéis sexuais.
“É a primeira vez que a Butler vem ao Brasil, e estamos muito felizes por ela ter aceitado o nosso convite, uma vez que temos uma enorme gama de estudos tendo os trabalhos dela como fundamentação teórica”, explica a coordenadora do I Congresso Internacional de Literatura e Gênero, professora Cláudia Maria Ceneviva Nigro, livre-docente do Departamento de Letras Modernas do Instituto.
A proposta do evento traz em si uma série de reflexões, dentre as quais: Como discutirmos gênero em nossa própria língua, em que predomina a tradição sexista, que insiste em definir um conjunto de pessoas de distintos gêneros no masculino? Como discutirmos gênero em espaços em que predominam a homofobia e a violência contra mulheres? Como discutirmos gênero na literatura? Na arte dita sem função?
Na literatura, os estudos sobre gênero encontram-se inseridos nos Estudos Culturais e acontecem na construção e na relação de (des)igualdade das personagens e das diversas vozes presentes (ou ausentes) no texto acerca da busca por explicações sobre as categorias fundacionais do gênero, sexo e desejo como efeitos de uma formação específica de poder, investigando as apostas políticas, designando categorias de identidades, que se mostram como efeito de instituições, discursos e práticas cujas origens são difusas e múltiplas. Os estudos de Gênero podem, assim, ser discutidos nas bases de uma abordagem dos estudos subalternos e tem como um dos seus objetivos investigar as formas pelas quais a atividade literária faz-se marcada pela feminilidade, masculinidade, entre outras. Não estamos falando da dualidade entre feminino e masculino, muito menos da história compensatória que pretende um equilíbrio de pesos na balança da história literária, um machismo às avessas. Tal linha não admite nem defende bandeiras a fim de privilegiar qualquer preferência sexual. Firma-se sobre a nebulosidade de noções como feminino e masculino e da investigação sobre as possibilidades políticas que surgem quando tais noções de identidade sobre o discurso ruem. Nada é mais atual que a percepção dessa performatividade. A arte literária é compartilhada em uma visão de signo social inevitavelmente mesclado a outros signos nos sistemas de significado e de valor.
Ao estudar como se dá o discurso sobre o gênero em obras literárias, observa-se que só é possível falar de um sujeito feminino /masculino, quando consideramos o discurso, o discurso representacional em que ele está inserido.
Sobre Judith Butler
Judith Butler é docente do Departamento de Literatura Comparada e do Programa de Teoria Crítica da Universidade da Califórnia, Berkeley. Ela atuou como diretora do Programa de Teoria Crítica, do qual é uma das fundadoras; recebeu seu Ph.D. em Filosofia pela Universidade de Yale, em 1984. Autora de 15 livros, dentre os quais, Problemas de gênero: Feminismo e subversão da identidade, considerada a obra fundadora da teoria queer.
Butler é também uma ativista nas políticas de gênero e sexual, e também dos direitos humanos e anti-guerra, e faz parte do conselho consultivo do Jewish Voice for Peace. Foi a vencedora do Prêmio Andrew Mellon para Distinto Desempenho Escolar nas Ciências Humanas (2009-13). Ela recebeu o Prêmio Adorno da Cidade de Frankfurt (2012) em honra às suas contribuições à filosofia feminista e moral; o Prêmio Brudner da Universidade de Yale pelo conjunto da obra em estudos gays e lésbicos, e a honra de Pesquisa Docente na Universidade de Berkeley em 2005. Por seus méritos em pesquisa, a teórica já foi signatária de várias bolsas concedidas por grandes instituições, dentre as quais Guggenheim, Rockefeller e Ford. Foi bolsista no Instituto de Estudos Avançados de Princeton e na École des hautes études en sciences sociales (Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais) em Paris.
Judith Butler recebeu graus honorários de universidades pelo mundo, como Université Bordeaux-III (França), Université Paris-VII(França), Grinnell College (Estados Unidos), Universidade McGill (Canadá), Universidade de St. Andrews (Inglaterra), Université de Fribourg (Suíça), e Universidad de Costa Rica. Em 2014, Butler foi condecorada com o Diploma de Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras do Ministério da Cultura francês.
Serviço
I Congresso Internacional de Literatura e Gênero
Quando: De 8 a 11 de setembro de 2015
Onde: Unesp em São José do Rio Preto
Mais informações: http://congressogeneroint.wix.com/generointernacional